terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Maná

Somos alimentados com ódio e crueldade,
somos equipados com fogo em tochas,
residimos em ocas feitas de sangue seco.

Nos deitamos em camas de cemitérios,
pois o ódio que nos alimenta mata nosso coração e sonhos,
restando somente matéria em decomposição.


O feng shui maldito urbanístico nos diz que massas sem rostos,
com corações, sonhos e dignidades,
desarmonizam nossas ruas.

A solução óbvia é fazer deixar de existir quem já não existe.

Magnífica sociedade modernizada, justa e democrática,
que entretém seu rebanho com mistérios cercados por cimento e tijolos,
adornados com preenchimentos de símbolos que conectam a figuras de doutrina.

Meus autofuncionários pseudo-patrióticos,
que se inflamam com suas tochas para atrair o maior público possível,
e entretém seus donos, que nada mais são que seus próprios bolsos.


O ódio não cabe mais no corpo, invadindo as ruas, se mesclando as massas.
O fogo se alastra violentamente para além das tochas, consumindo juízos,
éticas e o corpo alheio, até tomar todas as ruas.

Tão seco quanto as ocas são os corpos e mentes no futuro,
engolfados por rios de ódio e fogo,
que eventualmente consumirão a esfera que ficou oca,
seja a dentro do peito ou do universo.

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