quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Transição

É a alteração de estados
Mudança em sua concepção
troca de alianças e permuta de lados

Mas não se trata de uma condição inicial ou final,
uma vez que ela é o "meio" do caminho

Aquele instante na qual você se vê numa encruzilhada,
prestes a optar por uma das estradas da miríade de escolhas da vida

Esse momento é a iminência da ação,
o pensar em caminhar e,
logo após,
quase tocar seus pés no chão,
para dar o próximo passo

É o momento que o dia encontra a noite,
a terra encontra o mar,
o ano anterior encontra o próximo ano,
a cada pensamento,
letra escrita,
palavra dita,
vida perdida e encontrada

Todos os momentos são transições,
e até mesmo a transição em si é uma vítima de sua própria existência

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Apresentações teatrais - ato 3

Aberração - Um verdadeiro camaleão senciente

Às vezes triste, às vezes feliz, às vezes indeciso, às vezes decidido, às vezes batalhador, às vezes
fracassado,..., enfim: muitas faces sobre um mesmo corpo.

Diz-se que esse personagem descende dos mitológicos Hecatônquiros, seres que nasceram do sangue de
Urano, possuidores de diversas cabeças e braços.
De um ser assim, para onde se concentra seu olhar? Será este capaz de contemplar o todo ou sua
miríade de olhares é completamente desfocada?

Cabe a mim, Mestre do picadeiro e apresentador de maravilhas e tragédias colocá-lo sob perspectiva, tamanha a complexidade de seu ser.

Ele é um todo centrado em um quarto fechado. Um é o seu  corpo, quatro são as suas faces, uma é
a sua certeza: cada face que o compõe vê a outra como um inferno de Sartre.

Conseguirá essa face harmonizar-se com as demais? As demais chegarão a um mesmo resultado? Só o dirá.
Mas saibam de uma coisa: Por mais que as faces diferenciem-se, olhando cada uma direção, somente com a verdade das demais o todo pode prevalecer!

Uma salva de palmas para os filhos da região de Sião, a aberração divina de vários corpos.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Vida particular

Meu corpo é o caixão da minha alma
Meu caminhar é nada mais que um cortejo fúnebre
Para que viver se o que você é, realmente, é o oposto?

Os golpes que a vida me aflige,
sejam tristezas ou alegrias que não desejo,
são as maneiras mais eficazes de se pregar meu paletó

Todas as vezes que me alegro,
flores são deixadas na minha lápide,
que a propósito, me designa como devo ser chamado

Assim que uma vida nasce,
outra acaba

Em meu cemitério particular,
recebo a visita de uma fraca chuva fina
Por vezes também tenho de encarar as faces de abutres sorrateiros,
que a primeira vista parecem amigáveis,
mas o que bem querem é violar meu caixão e arrancar fora meus órgãos

Chegarão tarde demais,
pois tudo o que restará de mim é o princípio de toda a humanidade

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

[Os 4 sentidos]3- As Hereditárias

As muitas que são uma
e mesmo assim mantém suas individualidades
Acredita-se que a criação se iniciou sem Ela
Mas também pode-se pensar que foram as responsáveis por toda a criação,
pois Ela é Elas,
e Elas formam Ela

Imagine o casamento entre a luz e a escuridão
O momento na qual os olhos são abertos e a fração que representa seu encerramento
Quem segura pela mão esses momentos dicotômicos distanciados são Elas

Pense no Nada.
Impossível, não?
Pois bem, Elas estão lá,
a cada momento que o Nada primordial em sua mente tenta se preencher de vazio
Invejosas por natureza, esperam o momento do primeiro fôlego para perpetuar sua marca indelével

Por acaso pensou que somente suas plantações sofreriam com Elas?
Não mais brotarão e florescerão seus sonhos e desejos
Inspire! As absorva!
Expire! As dissemine!

Dez vezes mais suas bênçãos escarlates cairão sobre nossos templos
Ao acordar, ao dormir, ao calar-se...
ao verbo que ainda nem pronunciado foi
Em todos os momentos e em nenhum

Elas andam de mãos dadas com seus irmãos e irmãs,
seja abraçando, seja usando, seja se distanciando
Penso que delas jamais teremos descanso,
mesmo depois de atravessar para o outro lado do mistério
Seja sob, sobre ou perante o olhar de Zeus
Erdamo-nas e as passaremos para além do que conhecemos

Talvez, mesmo se sua existência for curta,
seus maus hábitos são longevos,
adquirindo maior contorno e complexidade com o lamentar do aumento pretérito

Será essa torrente de descontentamentos culpa sua?
Será que você se transformou naquilo que transcende o agora,
vindo do passado e almejando o futuro?

A única solução é a nulidade,
o vazio primordial
O caminho não é a subtração de partes iguais,
pois o que se busca é aquilo que não se deve buscar

É o não saber o porque
É o não se localizar,
por nunca estar lá
E no momento que se encontra a resposta para Elas,
Elas surgem

"Como saber se não existo?"

Existência após existência,
preenchendo aquilo que não deveria ser
Até o instante que o agora é insuficiente,
e de braços dados com seu irmão,
o próximo Nada é alcançado,
pois agora Ele existe,
e Elas passarão a existir

domingo, 23 de agosto de 2015

Pausa para a hesitação

Ignore o tema
não hesite em se empatizar
e se atenha ao dilema

Hesito em não hesitar
temo temer
acerto poder prever errar

Me inquieto quando penso
o tempo que irá ter passado agora
e isso por si só já me deixa tenso

E as partes?
e a ocasião, o local e horário?
está ignorando o próprio tema proposto?

Nada disso mais importa
a ocasião já passou
e o tempo uma vez mais bate a minha porta

Esse é um novo compromisso
que só de pensar nisso...
hesito

quinta-feira, 23 de julho de 2015

[Os 4 sentidos]2- O Parasita

Instalado no mais profundo superficial de todos os seres, lá ele se encontra, sendo na verdade ela.
Você nunca indaga se ela o possui ou se é o contrário. Quem poderá ter construído aquilo que nasceu para somente consumir?
Será que para se alimentar ela esvazia seus alvos?(quando estes estão satisfeitos)

Imagine alguém que é capaz de criar um ponto, e este por sua vez forma outro ponto, e assim segue-se até que todos os pontos formam uma reta.
Então, todas as retas em acordo formam um plano. Estes, por sua vez, formarão um espaço, e ad infinitum se formará um incontável número de dimensões.

Entre um destes momentos está você, ansioso por mais espaços, que por sua vez estão ansiando planos, e estes querem retas, e estas esperam pontos, e estes esperam pontos,
e estes esperam pontos...(ad infinitum)

Preciso de mais, mais, e mais para conseguir mais, mais e mais. Será que devorando-me conseguirei mais de mim?

Assim nasce o desejo daqueles que, não podendo mais esperar em si o que é e será de si, esperam o que será do que não é si.
Milhares de pontos, retas, planos, espaços...(ad infinitum). Todos esperando para formarem mais pontos, retas, planos, espaços...(ad infinitum). Todos para mim!
Este é o único caminho que possuo para existir, que outros deixem de existir para que eu possa me alimentar. Eu sou a ...

terça-feira, 23 de junho de 2015

No próprio Amanhã

Eu deitarei
Eu desistirei
Eu ponderarei

Eu caminharei
Eu lutarei
Eu me fortificarei

Eu insistirei
Eu me lembrarei
Eu acordarei

sábado, 23 de maio de 2015

[Os 4 sentidos]1- A Inevitável

Ela veio, e eu não a vi
Ela me beijou, e eu não senti
Ela me abraçou, e eu tremi
Depois de seu primeiro aperto, eu sangrei

Logo após conhecê-la, convidei-a para jantar
Sem reservas
tudo o que estivesse ao seu alcance
seu seria

Ao final, num rito que transcende meu presente
e se forja além de meu passado,
deixei para homens de fé e para os negociadores de almas
somente os restos de nossa refeição

Quantas famílias chorarão amanhã?
Não me importo,
pois delas Ela também será íntima
Elas abrirão a porta, e Ela irá se fartar

Anoitece cedo dentro de mim
Sozinho, espero logo estar acompanhado

Ela enfim chegou, para nosso último encontro
Dou adeus aos campos escarlates,
alegrando-me de não mais contribuir para sua plantação funérea

Em meu futuro vazio vejo três estrelas,
que nunca brilharão, pois uma caixa opaca e fria
se fechou em meu presente transcedental
Percebo luzes e sombras
e também Ela,
que parte para os braços de outros amantes,
esperando pelo calor de seus corpos

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Apresentações teatrais - ato 2

Seres completos de vácuo e forças opostas de mesmo módulo
 
Vida, vida, vida...
Assim como um balão, começa vazia
e à medida que os ventos se vão
o ar preenche suas lacunas

Mas, qual o sentido do balão que voa, senão voar pelos céus?
Em oposição à vida, quanto “menor” é seu interior em relação ao exterior,
mais próximo de alcançar seus desígnios se encontrará
Já a vida é necessariamente densa por dentro, mas não tal que afunde sobre os próprios pés

Observem o Malabarista de escolhas,
que à medida que o tempo se aproxima, mais e mais opções tem de empilhar,
sempre ciente de que o alinhamento errado dos potenciais pode resultar em ruína de sua torre de complexidades
Se muito vazio for, os problemas o esmagarão
Se muito denso for, lançará aos céus todos eles, nada restando para escolher

Na minha carreira como mestre do picadeiro vi muitos balões vazios, e também densos
Na sequência em que crescem, expandem-se de vazio profundo
E empurram outros balões que almejam também crescer

Mas vocês podem se perguntar: “Para os balões, você não disse que seu objetivo é alcançar os céus, por isso devendo ser vazio?“
Sim, eu disse. Mas quem sou eu para decidir o que o preenche, quais seus objetivos e qual deverá ser sua densidade?
No máximo, cuido do meu balão, esperando que o próximo a mim cresça, mas sempre dê espaço para o próximo também fazê-lo!
No mais, aplausos para o malabarista de escolhas
- Clap, clap, clap! – Fim do 2º ato.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O rio de brasas

Suas águas calcinam-me
Me recolho de dor e sofrimento
enquanto a verdade superficial é arrancada
Esse é o preço a ser pago por nadar suas águas

Porém, dor e prazer podem ser dois lados da mesma moeda
O sacrifício só existe onde o sentimento está presente

Deixo-me levar pelo rio incandescente vivo
coberto somente pela verdade em brasas
esperando que esta me deixe próximo a uma rosa âmbar
para qual arrancarei meu coração
e o depositarei em suas raízes
buscando nutrí-la com minha essência

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Nós

Nossos pés empurram o solo
e ele, por pura vingança, nos golpeia de volta
esperando possivelmente que alcemos voo e partamos

O vento a nossa frente forma um mar invisível
um clube particular e único que somente os incorpóreos participam
nos espremendo e chutando toda vez que nele tentamos ingressar

As águas marítimas são como o topo de montanhas íngrimes
pois sempre que buscamos nossa vida em seu topo
as mãos vigorosas da realidade nos puxam até o chão firme

Nossa vontade é o fogo, que a tudo transforma em pó e retorna a vastidão da terra
É o calor que permite aos ventos de oportunidade subirem e descerem no ar
Se traduz como a fluidez de um rio de lava, que mediante sua passagem a tudo tenta entender,
agregando o que há em seu caminho, libertando o todo da pressão ininteligível da exclusão

sábado, 24 de janeiro de 2015

Ordem dos fatores

Ordem,irmã mais velha do Caos

A boca humana profere as palavras,
unindo-as de comum acordo em um contexto que faça sentido.
As palavras se ordenam e trazem sentido a uma frase  ou oração.
Mas...
Quem veio primeiro ao mundo: A boca que diz ou a palavra que indica?


Desordem,irmã mais velha da Ordem

As lembranças de uma vida esquecida são pedaços de um panorama absoluto,
que são colocados em uma bela exposição da vida.
Logo,onde há mais sentido: numa fração de verdade abstrata ou num devaneio que é um todo?


Caos,irmão mais velho da Desordem

O dia de amanhã pode vir ou não,
mas sei que ele é pelo menos uma possibilidade.
Tudo caminha para o mais complexo dos desarranjos,
colocando toda palavra,lembrança ou dia na ordem que bem entender.
Mesmo que as bocas percam a fala,que a exposição da verdade seja arruinada,
ou que a impossibilidade da noite de ontem aconteça.

A vida se ordena como ela bem entender,por isso,esqueça se o acontecimento era pra ser hoje,
ontem ou amanhã.
Ignore e no fim tudo acabará começando novamente,na posição que bem quiser.

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