Somos alimentados com ódio e crueldade,
somos equipados com fogo em tochas, residimos em ocas feitas de sangue seco.
Nos deitamos em camas de cemitérios,
pois o ódio que nos alimenta mata nosso coração e sonhos,
restando somente matéria em decomposição.
O feng shui maldito urbanístico nos diz que massas sem rostos,
com corações, sonhos e dignidades, desarmonizam nossas ruas.
A solução óbvia é fazer deixar de existir quem já não existe.
Magnífica sociedade modernizada, justa e democrática,
que entretém seu rebanho com mistérios cercados por cimento e tijolos,
adornados com preenchimentos de símbolos que conectam a figuras de doutrina.
Meus autofuncionários pseudo-patrióticos,
que se inflamam com suas tochas para atrair o maior público possível,
e entretém seus donos, que nada mais são que seus próprios bolsos.
O ódio não cabe mais no corpo, invadindo as ruas, se mesclando as massas.
O fogo se alastra violentamente para além das tochas, consumindo juízos,
éticas e o corpo alheio, até tomar todas as ruas.
Tão seco quanto as ocas são os corpos e mentes no futuro,
engolfados por rios de ódio e fogo,
que eventualmente consumirão a esfera que ficou oca,
seja a dentro do peito ou do universo.
(Uma poetiza) (Pois seu pai era um mundo sem formas)
(e da morte) (anda normalmente por veredas) (o mundo fora daquele que nasceu não a perdoa)
(Se sua roupa) (para passar dos limites) (se ela é), ("sinal vermelho")
(Porém, metade e inteiro) -
(está no banco dos réus) (Bem como o valor)
(de origem) (e pensando e confabulando) (define) (julga) (o que basta)
(A régua me mede seu valor)
(mesmo quando é a primeira)
(Todos com ela são cavalheiros) (e por conseguinte encaram a vida como uma justa) (Se a vida é feita de metades complementares - de laranjas, de ideias, de almas, de amores, -) (são incompletos) (na próxima pessoa)
Consciente do concílio claro de ideias,
que me elevam na missão imiscível com o preconceito preponderante,
proposto por hipócritas triviais. Transvestidos por vestimentas de garbo e elegância,
que elegem engravatados, tardios nas tardes de trabalho intermitentes.
Que no pronunciamento praticam pululo de palavras não-palatáveis para o povo empobrecido,
esquecido,
que sofre de esquistossomose.
Doença bem comum,
do irmão que não tem um,
e é relegado ao relento,
e do outro lado do Estado tem o irmão que é violento, valente e violentado,
pelo motivo de ser o excluído:
por sua cor,
sua idade,
seu sexo(e com quem o pratica),
o que nem de longe justifica a atitude agressiva,
que infelizmente é aplaudida/ovacionada,
por viciados em verdades inverossímeis, apáticos a empatia,
e na iminência do terror,
que é transformado em louvor,
pela mídia que convém,
aliviando os erros do chamado "cidadão de bem",
que em turba fere,
mutila e assassina,
e a apresentadora que com palavras fascina,
o atestado de óbito assina,
da bruxa confusa,
pela confusão de corpos e vozes,
que se transmutam em algozes,
e ao fim levam(ledo engano)
O Ser Humano resolve dar um passeio fora de casa, dentro do seu lar que é o planeta. No beco sem saída que leva a toda parte ele reconhece o Desconhecido: o Acaso da Vida vem determinado pela Morte. Essa o conduz até o céu, no âmago da Terra. Lá, ele está completo, pois se encontra fragmentado em incontáveis pedaços.
Após o sono o Verde o traga de seu céu, levando-o a reencarnação sem vida própria. Seu corpo é o Herbívoro, seu corpo é o Carnívoro, seu corpo é o seu Próximo. E o Próximo. E o Próximo. Até não poder encontrar mais. Até que se encontra, perdido em outros, e finalmente concebido a partir de um novo Eu.
Entretanto, ele não percebe que já não é ele mesmo. Tampouco já que é vários, e que reencarnou antes, agora e ainda em curso.