segunda-feira, 23 de julho de 2018

A priori

Não sou machista,
por isso:

quando te xingo,
quando te bato,
quando te mato -
tudo isso resume ações que ocorrem naturalmente

Não sou homofóbico,
por isso:

se te taxo,
se te ridicularizo,
se te espanco -
tudo isso resume ações que ocorrem naturalmente

Não sou racista,
por isso:

nunca vi a sua pele,
nunca vi o seu cabelo,
nunca vi o seu sofrimento -
tudo isso resume ações que ocorrem naturalmente


Quando o machismo, a homofobia,
o racismo e seus iguais em opressão não são vistos,
ouvidos ou faladas,
é sinal de que os olhos são cegos,
as bocas são mudas
e os ouvidos são surdos


Não busco nessas questões o verbo "ser",
e sim o verbo "fazer" ou o "agir"

sábado, 23 de junho de 2018

Traje esporte fino para lama

O Grande Evento ocorrerá em breve
Todo o ser vivo e matéria bruta esta convidado para assistir e participar

O endereço é no país Universo, Estado Humano, Cidade da Sociedade, no Bairro
do Status, no cruzamento do orgulho com a ganância e a luxúria.

A casa do acontecimento é alugada,
mas o cerimonial "do próprio ser" diz que é do proprietário: O senhor Sapiens

Entre os convidados famosos estão:

A Tradição: Trajando seu terno gasto, porém clássico

A Família:Com seu traje de várias cores, vários tamanhos e vários modelos

Os Bons Costumes:Com seus trajes especulares retrógrados

O Cidadão de Bem:esse veio pelado, sambou na cara da Senhora Sociedade -
Sempre muito recatada(#sqn) - tomou três doses e partiu, pois tinha mais o que fazer da vida.

Senhora Sociedade:Benfeitora que da nome a nossa bela cidade, indumentada com seu vestido frio como o fogo, escuro como o sol do meio dia límpido e lógico como uma falácia.

Preconceito:Pediu para falar que não veio, mas é só você olhar para o lado
que o vê enchendo a cara, mas dizendo que está de cara limpa

Os demais convidados ou não são dignos de nota(reclame com os patrocinadores
desse evento bizarro),ou estão no centro comunitário Pirâmide, na rua Base,
localizada nessa mesma cidade Sociedade. Estão todos maltrapilhas, mas quem
se importa? Não estão iguais aos convidados do Grande Evento: Todos nadando
no rio de lama que encheu as ruas e as casas da cidade?

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Aliterações - O periférico

Presumo eu,
em prisões,
paralelamente separado dos meus semelhantes por visões de ferro,
que pela cúpula social sou culpado pelo cúmulo dos acúmulos repetidamente indevidos,
pois me apropriei do pecúlio pertencente ao próximo

Penalizado nasci,
estou e serei

A pé pelas periferias perigosas que me pertencem,
meus olhos-boca-ouvidos-pele são comunitários

Fora das minhas redondezas sou percebido por visões únicas,
próprias de pensamentos preconceituosos,
que me paradigmatizam

Pela fome fico afoito,
pois ela é fictícia montagem feita pelos feitores do contemporâneo,
que contentes se fixam em focar faces alheias em símbolos de consumo transcendentes,
que na mente deixam e são marcas

Vejo o futuro reluzente na rua,
me aproprio dele e ele me apropria,
pois posto a vontade em minha alma e mente,
ela me consome com cólera e some com minha visão comunitária

Isso me leva a prisão de carne,
ou a de ferro ou a de terra

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Falha na perfeição

Bela concepção
Belo bebê
Belo crescimento

Linda família
Linda casa
Linda vizinhança

Bonito bairro
Bonito cidade
Bonito Estado

Agradável país
Agradável continente
Agradável planeta

Majestosa galáxia
Majestoso universo
Majestosa dimensão

Hmmm... Quem é você mesmo?

sexta-feira, 23 de março de 2018

Ilha - Primeira pessoa do singular

Um pedaço de terra,
moldado com coração, pulmões e outros órgãos.
É cercado de água por todos os lados,
dentro de 75% de outras terras

O sol psicológico ilumina sua mente,
despertando seus pedaços
A maresia preenche sua respiração,
enegrecendo seus pulmões e agravando sua voz para o mundo

Essa terra encontra-se isolada,
tacitamente,
num arquipélago de moradias

A chuva melancólica profunda precipita-se no seu corpo,
prostrando-o

Nenhum homem é uma ilha
Alguma ilha é um homem figurado

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Dever de casa

Lição 1: O caminho do comum,
peça na cintura por algum,
cujo o fim é ser nenhum

Lição 2: Na panela sem arroz,
tem a fúria da prole de nós dois,
que é deixada pra depois

Lição 3: Pobre no Brasil não tem vez,
logo amarga um futuro de talvez,
pois é engambelado, senhores políticos, por vocês

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Maná

Somos alimentados com ódio e crueldade,
somos equipados com fogo em tochas,
residimos em ocas feitas de sangue seco.

Nos deitamos em camas de cemitérios,
pois o ódio que nos alimenta mata nosso coração e sonhos,
restando somente matéria em decomposição.


O feng shui maldito urbanístico nos diz que massas sem rostos,
com corações, sonhos e dignidades,
desarmonizam nossas ruas.

A solução óbvia é fazer deixar de existir quem já não existe.

Magnífica sociedade modernizada, justa e democrática,
que entretém seu rebanho com mistérios cercados por cimento e tijolos,
adornados com preenchimentos de símbolos que conectam a figuras de doutrina.

Meus autofuncionários pseudo-patrióticos,
que se inflamam com suas tochas para atrair o maior público possível,
e entretém seus donos, que nada mais são que seus próprios bolsos.


O ódio não cabe mais no corpo, invadindo as ruas, se mesclando as massas.
O fogo se alastra violentamente para além das tochas, consumindo juízos,
éticas e o corpo alheio, até tomar todas as ruas.

Tão seco quanto as ocas são os corpos e mentes no futuro,
engolfados por rios de ódio e fogo,
que eventualmente consumirão a esfera que ficou oca,
seja a dentro do peito ou do universo.

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