quarta-feira, 23 de setembro de 2015

[Os 4 sentidos]3- As Hereditárias

As muitas que são uma
e mesmo assim mantém suas individualidades
Acredita-se que a criação se iniciou sem Ela
Mas também pode-se pensar que foram as responsáveis por toda a criação,
pois Ela é Elas,
e Elas formam Ela

Imagine o casamento entre a luz e a escuridão
O momento na qual os olhos são abertos e a fração que representa seu encerramento
Quem segura pela mão esses momentos dicotômicos distanciados são Elas

Pense no Nada.
Impossível, não?
Pois bem, Elas estão lá,
a cada momento que o Nada primordial em sua mente tenta se preencher de vazio
Invejosas por natureza, esperam o momento do primeiro fôlego para perpetuar sua marca indelével

Por acaso pensou que somente suas plantações sofreriam com Elas?
Não mais brotarão e florescerão seus sonhos e desejos
Inspire! As absorva!
Expire! As dissemine!

Dez vezes mais suas bênçãos escarlates cairão sobre nossos templos
Ao acordar, ao dormir, ao calar-se...
ao verbo que ainda nem pronunciado foi
Em todos os momentos e em nenhum

Elas andam de mãos dadas com seus irmãos e irmãs,
seja abraçando, seja usando, seja se distanciando
Penso que delas jamais teremos descanso,
mesmo depois de atravessar para o outro lado do mistério
Seja sob, sobre ou perante o olhar de Zeus
Erdamo-nas e as passaremos para além do que conhecemos

Talvez, mesmo se sua existência for curta,
seus maus hábitos são longevos,
adquirindo maior contorno e complexidade com o lamentar do aumento pretérito

Será essa torrente de descontentamentos culpa sua?
Será que você se transformou naquilo que transcende o agora,
vindo do passado e almejando o futuro?

A única solução é a nulidade,
o vazio primordial
O caminho não é a subtração de partes iguais,
pois o que se busca é aquilo que não se deve buscar

É o não saber o porque
É o não se localizar,
por nunca estar lá
E no momento que se encontra a resposta para Elas,
Elas surgem

"Como saber se não existo?"

Existência após existência,
preenchendo aquilo que não deveria ser
Até o instante que o agora é insuficiente,
e de braços dados com seu irmão,
o próximo Nada é alcançado,
pois agora Ele existe,
e Elas passarão a existir

domingo, 23 de agosto de 2015

Pausa para a hesitação

Ignore o tema
não hesite em se empatizar
e se atenha ao dilema

Hesito em não hesitar
temo temer
acerto poder prever errar

Me inquieto quando penso
o tempo que irá ter passado agora
e isso por si só já me deixa tenso

E as partes?
e a ocasião, o local e horário?
está ignorando o próprio tema proposto?

Nada disso mais importa
a ocasião já passou
e o tempo uma vez mais bate a minha porta

Esse é um novo compromisso
que só de pensar nisso...
hesito

quinta-feira, 23 de julho de 2015

[Os 4 sentidos]2- O Parasita

Instalado no mais profundo superficial de todos os seres, lá ele se encontra, sendo na verdade ela.
Você nunca indaga se ela o possui ou se é o contrário. Quem poderá ter construído aquilo que nasceu para somente consumir?
Será que para se alimentar ela esvazia seus alvos?(quando estes estão satisfeitos)

Imagine alguém que é capaz de criar um ponto, e este por sua vez forma outro ponto, e assim segue-se até que todos os pontos formam uma reta.
Então, todas as retas em acordo formam um plano. Estes, por sua vez, formarão um espaço, e ad infinitum se formará um incontável número de dimensões.

Entre um destes momentos está você, ansioso por mais espaços, que por sua vez estão ansiando planos, e estes querem retas, e estas esperam pontos, e estes esperam pontos,
e estes esperam pontos...(ad infinitum)

Preciso de mais, mais, e mais para conseguir mais, mais e mais. Será que devorando-me conseguirei mais de mim?

Assim nasce o desejo daqueles que, não podendo mais esperar em si o que é e será de si, esperam o que será do que não é si.
Milhares de pontos, retas, planos, espaços...(ad infinitum). Todos esperando para formarem mais pontos, retas, planos, espaços...(ad infinitum). Todos para mim!
Este é o único caminho que possuo para existir, que outros deixem de existir para que eu possa me alimentar. Eu sou a ...

terça-feira, 23 de junho de 2015

No próprio Amanhã

Eu deitarei
Eu desistirei
Eu ponderarei

Eu caminharei
Eu lutarei
Eu me fortificarei

Eu insistirei
Eu me lembrarei
Eu acordarei

sábado, 23 de maio de 2015

[Os 4 sentidos]1- A Inevitável

Ela veio, e eu não a vi
Ela me beijou, e eu não senti
Ela me abraçou, e eu tremi
Depois de seu primeiro aperto, eu sangrei

Logo após conhecê-la, convidei-a para jantar
Sem reservas
tudo o que estivesse ao seu alcance
seu seria

Ao final, num rito que transcende meu presente
e se forja além de meu passado,
deixei para homens de fé e para os negociadores de almas
somente os restos de nossa refeição

Quantas famílias chorarão amanhã?
Não me importo,
pois delas Ela também será íntima
Elas abrirão a porta, e Ela irá se fartar

Anoitece cedo dentro de mim
Sozinho, espero logo estar acompanhado

Ela enfim chegou, para nosso último encontro
Dou adeus aos campos escarlates,
alegrando-me de não mais contribuir para sua plantação funérea

Em meu futuro vazio vejo três estrelas,
que nunca brilharão, pois uma caixa opaca e fria
se fechou em meu presente transcedental
Percebo luzes e sombras
e também Ela,
que parte para os braços de outros amantes,
esperando pelo calor de seus corpos

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Apresentações teatrais - ato 2

Seres completos de vácuo e forças opostas de mesmo módulo
 
Vida, vida, vida...
Assim como um balão, começa vazia
e à medida que os ventos se vão
o ar preenche suas lacunas

Mas, qual o sentido do balão que voa, senão voar pelos céus?
Em oposição à vida, quanto “menor” é seu interior em relação ao exterior,
mais próximo de alcançar seus desígnios se encontrará
Já a vida é necessariamente densa por dentro, mas não tal que afunde sobre os próprios pés

Observem o Malabarista de escolhas,
que à medida que o tempo se aproxima, mais e mais opções tem de empilhar,
sempre ciente de que o alinhamento errado dos potenciais pode resultar em ruína de sua torre de complexidades
Se muito vazio for, os problemas o esmagarão
Se muito denso for, lançará aos céus todos eles, nada restando para escolher

Na minha carreira como mestre do picadeiro vi muitos balões vazios, e também densos
Na sequência em que crescem, expandem-se de vazio profundo
E empurram outros balões que almejam também crescer

Mas vocês podem se perguntar: “Para os balões, você não disse que seu objetivo é alcançar os céus, por isso devendo ser vazio?“
Sim, eu disse. Mas quem sou eu para decidir o que o preenche, quais seus objetivos e qual deverá ser sua densidade?
No máximo, cuido do meu balão, esperando que o próximo a mim cresça, mas sempre dê espaço para o próximo também fazê-lo!
No mais, aplausos para o malabarista de escolhas
- Clap, clap, clap! – Fim do 2º ato.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O rio de brasas

Suas águas calcinam-me
Me recolho de dor e sofrimento
enquanto a verdade superficial é arrancada
Esse é o preço a ser pago por nadar suas águas

Porém, dor e prazer podem ser dois lados da mesma moeda
O sacrifício só existe onde o sentimento está presente

Deixo-me levar pelo rio incandescente vivo
coberto somente pela verdade em brasas
esperando que esta me deixe próximo a uma rosa âmbar
para qual arrancarei meu coração
e o depositarei em suas raízes
buscando nutrí-la com minha essência

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